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sobre agradecimento e cegueira

E depois de tantas coisas. Há ainda algo que quero lhe dizer: obrigado por não me amar. Eu sei que você irá estranhar eu lhe agradecer por isto. Mas, encarecidamente, obrigada. Obrigada por cada gesto seu que me mostrava o quanto não me amar era sua principal tarefa, por cada palavra sua que cortava fundo todas as minhas artérias e me fazia emudecer e depois chorar, chorar e chorar. Meu deus, como eu chorava.


Você não me amava de forma tão veemente que doía, cortava, dilacerava, partia. E parece que quanto mais você confirmava o seu não-amor por mim, mais eu queria o contrário, mais eu implorava, mas eu esperava que tudo mudasse de repente, uma surpresa, você aparecer na minha casa de repente e falar que era um idiota e me amava, resultado de todos os romances que assisti e li. Fiquei dias assim, dias sem escrever, sem ler, sem ouvir as minhas músicas, porque todas as coisas bonitas da vida me lembravam você e você era algo que me fatigava até a última gota de bom senso.

Eu lhe dizia tantas coisas, e tantas repetidas, que você me mandava calar, parar de ser estúpida. E eu pensava no quão estúpido era você por, apesar de tantas repetições, não perceber o perceptível. O meu apelo desesperado por amor, que estava sempre nas entrelinhas. Ler as entrelinhas, este nunca foi seu forte. E aliás, acho que nunca lerá este texto. Você nunca se interessou por nada que escrevi.

Todas as formas de mostrar a sua falta de amor estavam estampadas, mas eu não via. Estava cega. Na verdade eu via, mas não conseguia assimilar. Como era possível que pudesse viver sem mim? Não era justo. Como não lembrava de tudo assim como eu? Como não estremecia no menor indício de qualquer lembrança que remetesse a alguma coisa que algum dia foi só nossa da mesma forma que eu fazia o tempo todo? Impossível entender. E o seu silêncio era tão profundo, e, ao mesmo tempo, vazio e cheio, cheio da dor que a minha alma se preenchia.

Mas você deve estar se perguntando porque mesmo te agradeci. É só porque depois de tanto tempo, tantos choros, aflições, esperas intermináveis, eu pude ver. E vi. E olhei denovo. E mais uma vez, porque nossos olhos nos enganam e eu já estava farta de me enganar. É só porque depois de tanto lamentar a sua falta, percebi que a minha maior falta, era de mim mesma. Te amei tanto e te dei tudo que pude, e não sobrou nada para mim. O que fazer? Recuperar o tempo perdido comigo mesma. E quanto a você? Obrigada por me ensinar uma das maiores lições da minha vida. Obrigada por me fazer enxergar o óbvio: eu mesma.

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